O casal mais ardiloso e sedutor da política americana está de volta às telinhas. Após conquistas importantes alcançadas por um caminho nada louvável, o desafio de Frank e Claire Underwood é não perdê-las. E a forma de manter tudo isso, sabemos, não vai ser fácil nem colorida. A não ser, talvez, por uma eventual presença de vermelho sangue no percurso.
Não é por acaso que uma das imagens de divulgação da nova temporada traz Claire com as mãos exatamente nesse clima. Sem entrar em spoilers, pode-se dizer que as regras da lei ou mesmo da humanidade não são obstáculo para o determinado percurso da dupla rumo ao posto mais alto do poder. Criada por Beau Willimon, que também é roteirista e produtor-executivo da série, House of cards é inspirada num livro escrito décadas atrás por um político inglês e já teve uma versão para a tv britânica nos anos 90. Nada que se compare ao fenômeno da produção do Netflix, que disponibiliza de uma vez todos os episódios, gerando uma onda mundial de binge watching.
Além da dramaturgia excelente e do trabalho primoroso do elenco, encabeçado por Kevin Spacey e Robin Wright, a série é um ótimo exercício de observação do comportamento, postura e imagem profissionais contemporâneos, dessa vez ambientados no universo político americano. O guarda roupa do casal é clássico, adequado inclusive para eventos teoricamente menos formais, comuns na rotina política. Mesmo nestes, o cuidado com a imagem é milimétrico, e em nenhum instante eles se esquecem de que estão sob os holofotes, observados por eleitores, aliados e inimigos. Os atos mais absurdos são embalados por essa postura pública aparentemente impecável, em que até eventuais possíveis escândalos são manipulados para beneficiar a dupla frente a opinião pública. Mesmo a vida pessoal dos Underwood está pautada por esse propósito, comum aos dois e sem hierarquia: o poder a qualquer custo. A simbiose é total e, se a esposa não é a “estrela” oficial da família, nos bastidores e intimidade fica muito claro que ambos dividem igualmente as rédeas da situação. Televisão da melhor qualidade, retratando um trabalho primoroso também de gerenciamento de imagem e marca pessoal. Os objetivos podem ser os piores, mas a execução é primorosa.