Por Marcia Hamaoka
Um dos maiores nomes da moda contemporânea brasileira, Ricardo Almeida é conhecido em todo o mundo por seu trabalho de altíssima qualidade em alfaiataria e originalidade, em peças desenvolvidas por sua equipe desde a confecção do tecido até o desenho de roupas e acessórios únicos e exclusivos. No Rio para o evento da Glamurama, o estilista conversou conosco sobre seus planos para uma faculdade de moda, sua visão de marketing, o cuidado com a qualidade de suas criações e o compromisso de estar sempre evoluindo.
O projeto da faculdade é dos mais interessantes. Ao contrário dos cursos técnicos, muito úteis mas já bem disseminados, o plano de Ricardo Almeida é criar um curso superior, nas palavras do designer: “para criar estilistas, pessoas que vão trabalhar em outro patamar, podendo fazer de sua vida na moda um negócio”. A intenção é ambiciosa, o desenho vai além do curso, pensando inclusive no prédio e nas instalações como algo nunca visto no Brasil ou no exterior.
E ele conhece bem o mundo da moda internacional. Não é de hoje que seu trabalho é admirado nos grandes mercados do mundo, com uma marca identificada com qualidade e cara própria. Antenadíssimo, afirma não prestar atenção na concorrência: “Quando comecei olhava todas as marcas, até comprava peças para ver como fazia. Hoje minha prioridade é desenvolver o tecido e criar em cima do tecido que desenvolvi.” O trabalho começa no fio que forma esse tecido, passando por estudos de pigmentação que permitem não só cores exclusivas como efeitos do tipo mudança de tom conforme a luz.
A conquista dessa autoconfiança, referendada pelo mercado internacional, permite que ele não se prenda a tendências e reforce ainda mais a sua identidade. “O homem vai pra academia pra emagrecer, ficar longilíneo, não vou fazer uma roupa para engordá-lo, e sim para valorizá-lo”, exemplifica, citando a modelagem mais larga, opção de alguns estilistas. “Não vou mudar porque A, B ou C estão fazendo isso, faço o que acredito que é mais interessante”.
O estilo de Ricardo se adequa ao cliente, sem perder o seu norte. Ele sabe que o que parece básico para um pode ser over para outro, e afirma que não existe nada proibido para o homem contemporâneo. “Antigamente não se podia usar vermelho com amarelo, marrom com preto, marinho com preto, marinho com marrom…”, exemplifica. “Tudo que era proibido um tempo atrás virou febre, por isso acho que não podemos proibir nada, se não nunca vamos evoluir”, completa.
E evolução nem sempre é para algo mais grandioso. Seus desfiles, por exemplo, estão mais intimistas. Hoje o investimento em marketing é muito mais numa campanha ousada, desenhada com inteligência para o universo masculino, do que para presenças como a de Gisele Bündchen na passarela. Seus filmes com ambientação no universo de esportes como o wakeboard, rugby e motociclismo falam diretamente com esse consumidor que não está pensando se o terno vai sujar na chuva ou amassar na moto, citando a típica atitude masculina. Em um caso exemplar de como a marca está em simbiose com seu criador, é um privilégio conversar com esse homem que representa bom gosto, estilo e qualidade. E que está sempre sorrindo.