Semanas atrás o mundo celebrou uma grande conquista dos americanos: estava oficialmente instituído o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. O Facebook foi inundado por avatares coloridos, dando a impressão de que o país tinha se livrado de seu forte conservadorismo, abraçando de vez a tolerância. Mas, assim como no Brasil, cada passo rumo a uma realidade com menos preconceito parece receber outros oito contra. A premiação de Caitlyn Jenner, nova identidade do campeão olímpico Bruce Jenner pela ESPN, mostra que ainda há um longo caminho para que as questões de gênero e sexualidade sejam discutidas sem polêmica. Mas o reconhecimento da trajetória da ex atleta num ambiente machista como o esportivo não deixa de ser um marco.
O prêmio concedido ontem a Caitlyn é uma homenagem ao tenista americano Arthur Ashe, super campeão de Grand Slam que, infectado pelo vírus da Aids, se transformou num ativista pela conscientização contra a doença. Morto em 1993, menos de um ano após anunciar publicamente que era HIV positivo, Ashe deixou um legado de inspiração e pesquisa, através da fundação criada por ele. O prêmio da ESPN já foi concedido a nomes como Nelson Mandela, Muhammad Ali e Billie Jean King, celebrando a coragem de pessoas cuja atitude transcende o papel esportivo.
Em discurso emocionado, Jenner lembrou da importância de se incentivar a liberdade de gênero. Rica e com apoio da família, ela sabe que nem está entre os mais afetados pelo preconceito. Ela não nega que esteja sendo alvo de críticas e até de violência mas afirma que tem estrutura, inclusive graças ao esporte, para lidar com isso de cabeça erguida. Ao agradecer aos que a premiaram, celebrou o fato desse reconhecimento poder fortalecer outras pessoas ainda em conflito com sua personalidade trans, lembrando ainda que a maioria ainda sofre sendo espancada, assassinada ou mesmo cometendo suicídio. Recém apresentada ao mundo em sua nova identidade de gênero, ela espera ser um exemplo, assim como sua família-celebridade, as Kardashian, que vêm apoiando publicamente o padastro.