Por Marcia Hamaoka
Já no terceiro dia de desfiles da SPFW, é possível perceber o efeito da crise não só nas passarelas. Com a responsabilidade e o temor de saber que o mar não vai estar para peixe nos próximos meses – no Brasil e no exterior – os estilistas e executivos da moda estão focando no lado comercial do business, o que pode deixar a criatividade um pouco comprometida.
Com anos de estrada e conhecimento das preferências de seus clientes, as brands estão indo direto ao que eles procuram, criando peças versáteis e mais simples de serem vendidas, com o DNA da marca estampado, para despertar o desejo imediato, garantindo a viabilidade comercial da próxima coleção. As roupas estão mais “fáceis”, menos codificadas, e mesmo as referências estão, digamos, decifráveis nas passarelas, não precisando de tanto filtro para chegar ao consumidor final. Ou seja, o caminho está desenhado para ser menos tortuoso até a venda. Menos complexas, essa peças tampouco precisam de muita propaganda para ter o seu conceito explicado, o que gera uma economia significativa na comunicação com o consumidor.
Isso não privou, porém, os designers locais de absorver as tendências internacionais, como os ecos dos anos 60 e 70, muito presentes também nas coleções daqui. Os materiais nacionais se beneficiam da alta do dólar, e também marcam presença nas passarelas que trazem o que se vestirá na próxima estação. Há ainda uma presença de elementos de brasilidade, fora do clichê Carmen Miranda das cores esfuziantes, como as tribos indígenas que inspiraram um ar naturalista, com tecidos (seda e algodão) e cores e tons neutros (branco, cru, off-white).